TÉDIO LEVA AO STRESS

08/07/2015 17:02

                       TÉDIO LEVA AO STRESS

Espero que quando você estiver lendo esse artigo, esteja em férias. Ou ao menos usufrua daquele clima mais vagaroso que paira nas cidades no verão e desacelere o ritmo mental.

Mais relaxadas às pessoas, principalmente as pessoas que tem um estilo de vida frenético (ou seja, quase todas), tendem a desejar prolongar a sensação de bem-estar que fazer menos promove. Quem já não sonhou em estar de férias para sempre? Ou imaginou que, se não precisasse fazer mais nada, estaria finalmente livre de um dos maiores algozes do homem contemporâneo, o stress? Em geral associado ao excesso de trabalho e à pressão da falta de tempo para realiza-lo, o stress é descrito como “o conjunto das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por vários agentes externos agressores”. Entre eles estão às condições de uma vida muito ativa. Pois novos estudos vem questionar tal pensamento e associar a síndrome exatamente a... fazer pouco! Ou, então, a cumprir apenas tarefas monótonas e repetitivas, incapazes de despertar interesse. Em uma definição bem clara: a ficar entediado.

Em pesquisa da Universidade de Waterloo, no Canadá, demonstrou que o tédio pode ser um indutor de stress. Submetidas em situação de monotonia (por meio de exibição de vídeos desinteressantes, como de gente colocando roupas na máquina de lavar), os participantes do experimento tiveram seus batimentos cardíacos acelerados, a condutividade da pele reduzida e os níveis de hormônios cortisol elevados – sinais característicos do stress. Pessoas nessas condições, concluíram os cientistas, perdem a capacidade de manter a atenção à sua volta. E a falta de conecção com o mundo externo leva, como em um círculo vicioso, à perpetuação do estado de stress.

O que se produziu em laboratório é uma situação comum na vida cotidiana. Se não temos o que fazer, andamos metaforicamente em círculos sem achar nada que atraia nosso interesse. Não descansamos nem relaxamos. Entramos em uma espiral de angústia e ansiedade. Mais diferentemente das situações de exaustão por excesso de trabalho, não sabemos muito bem como definir ou justificar essa sensação.

Estudiosos alertam pela má compreensão do tédio. Não é o contrário de uma vida ativa. Uma tarefa extenuante, mas repetitiva e nada desafiadora pode ser tão prejudicial à saúde psíquica quanto atividade sempre associada ao stress, como dos controladores de voo, cirurgiões (por que não) das mães que trabalham e cuidam dos filhos pequenos. Ter “todo o tempo” para si é diferente de ter “mais tempo” para si. As pessoas mais ocupadas do mundo nem sempre são estressadas. Depende, diz a pesquisa, do poder daquilo que estiverem fazendo captar, de fato, sua atenção, seja pela via do prazer, seja pela dificuldade. A euforia de encarar um desafio é o que se chama stress positivo – a mesma liberação de hormônios afia o funcionamento cognitivo do cérebro e ajuda a ser melhor naquela atividade. Alguns cientistas criticam o excesso de negatividade. Associado ao termo stress. É a forma como lidamos com seus efeitos que define se ele é nosso amigo ou inimigo.

Assim como o corre-corre do trabalho nem sempre é negativo, a monotonia pode ser positiva.

Para citar um “tedio bom”, pense na monotonia desejável quando estamos tão cansados que tudo o que queremos é não fazer nada ou fazer muito pouco, como lagartear ao sol e olhar as nuvens.

Um e outro, porém, tem limites – e, como bons vinhos e pratos, devem ser degustados com parcimônia. É para isso que servem as férias.(ARTIGO PUBLICADO EM CLAUDIA/JANEIRO/2015)

 

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