SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR

11/04/2016 15:58

 

Ebola dizima família, deixando um liberiano vivo e sozinho

 

Gaye Dumbai perdeu pai e mãe, duas irmãs, um irmão, duas tias, dois tios e quatro sobrinhos, mas resistiu à doença!

Quando Gaye Dumbai caminhava pela estrada de terra, indo para o cemitério coberto de mato onde sua mãe está enterrada, os moradores saíam de suas casas para vê-lo, apesar da chuva.

"Oi, Gaye, você vai ver a cova de sua mãe?" perguntou Naomi Tama, que trabalha no mercado local, seguindo-o pelo caminho lamacento até que ele entrou pelo mato, indo em direção ao túmulo. Ela o acompanhou por mais alguns metros, então parou, desistiu.

"Ei, cara", disse ela em solidariedade. E de novo. "Ei, cara."

Nas crônicas da epidemia que varreu o país como a peste, Gaye Dumbai, de 36 anos, é considerado uma história de sucesso. Ele é um sobrevivente do Ebola. Por quase 30 dias, lutou contra o vírus, primeiro sozinho, coberto com uma manta e sentado sobre uma panela de água quente com folhas de chá, o método africano. Claro que não funcionou e aí teve que passar seis dias em um hospital local, esperando por um diagnóstico, e mais 16 em um hospital em Monróvia, lutando contra a debilitante perda de sangue e fluidos.

Porém, quando finalmente venceu o Ebola, recebeu a mesma notícia que muitos outros sobreviventes: sua família estava morta. Dumbai perdeu pai e mãe, duas irmãs, um irmão, duas tias, dois tios e quatro sobrinhos.

Essa continua a ser a grande maldição da doença que devastou a costa ocidental africana em 2014 - e dizimou famílias inteiras. Com exceção dos trabalhadores de saúde, que contraíram a doença por cuidar heroicamente de pessoas que nem conheciam, a maioria das vítimas do Ebola ficou doente porque cuidava de entes queridos. Consequentemente, grande parte dos mais de cinco mil liberianos que adoeceu, mas não morreu, se tornou um estudo de caso ambulante de como lidar com a perda imensurável.

Agora, mais de um ano depois, Dumbai, como tantos outros, voltou a viver a vida, mas, como para outros sobreviventes, ela não é mais a mesma.ESTADÃO\ABRIL\2016.

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